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Diário de bordo

O trabalho aqui apresentado é composto por uma montagem que articula depoimentos de sete dos oito artistas entrevistados pelo projeto. Três deles atuam no âmbito do violão solo, relacionando-se com a tradição escrita, erudita ou de concerto: Sérgio Assad, Marco Pereira e Paulo Bellinati; outros três, no âmbito da canção popular: João Bosco, Paulo César Pinheiro e Luiz Tatit; e dois, ainda, atuam tanto como compositores-violonistas quanto como cantores, marcando presença em ambos os campos investigados: Guinga e Elomar[i].

Os entrevistados nasceram entre os anos de 1946 e 1952, o que nos permite considerá-los – a despeito das especificidades de cada biografia – representantes de uma mesma geração. Os artistas são brevemente apresentados abaixo em função de sua contribuição para a presente pesquisa. Elomar, nascido em 1937, reitera-se  como exceção.

Os artistas são brevemente apresentados a seguir em função de sua contribuição para a presente pesquisa, já que a disposição das entrevistas – na ordem em que aconteceram – parece-nos a melhor forma de se referir ao que o leitor encontrará nas páginas seguintes. Esse arranjo acaba por delinear uma espécie de “Diário de Bordo”, que bem representa a trajetória deste livro:

1ª entrevista – realizada em 03/10/2011 – Luiz Tatit (1951): Compositor, cantor, violonista e professor livre-docente do departamento de Linguística da USP, onde desenvolve trabalho sobre a canção popular no Brasil. Contribuiu de forma decisiva para o formato do trabalho aqui apresentado desde seu primeiro momento, antes mesmo da realização dessa que acabou por ser a entrevista inaugural do projeto. Nesse encontro foram colocadas questões centrais – tais como a distinção entre “canção” e “música” – que representaram importante estímulo no sentido de tecer o presente cruzamento entre os pontos de vista dos artistas entrevistados.

2ª entrevista – em 20/12/2011 – Paulo Bellinati (1950): Violonista, compositor, arranjador e produtor musical que ao longo da carreira realiza trabalhos ligados ao violão solo e à canção, na intersecção entre a música popular e “de concerto”. Representou importante parâmetro para um maior aprofundamento nos meandros da percepção que o violonista-solista configura frente ao campo de interação abordado pela presente pesquisa. A solidez de tal parâmetro favoreceu-nos na concepção de uma linha de trabalho que lide com as diferenças entre as abordagens, concepções estilos que, mesmo dentro do âmbito estritamente violonístico, se revelam marcantemente plurais.

Qualificação do projeto de pesquisa – em 05 de outubro de 2012 – é realizada a banca de qualificação, composta por José Miguel Wisnik, Ivan Vilela e pelo orientador do trabalho Gil Jardim. Momento no qual ficam definidas as diretrizes do trabalho.

3ª entrevista – em 05 de janeiro de 2013 – Sérgio Assad (1952): Violonista, compositor, arranjador e guitar professor na Faculty do SFCM (San Francisco Conservatory of Music). Um dos integrantes do “Duo Assad” é nosso principal interlocutor no que concerne a música e violão “de concerto”. A especificidade de sua condição de concertista-compositor renomado que, como compositor – ou “composer” – declara-se decisivamente influenciado pela canção brasileira – e consequentemente pela prática do “songwriter”[i]. Assad articula de modo significativo o tema do presente trabalho com o programa de pós-graduação do curso do departamento de música – que tem ênfase no estudo da música erudita – da Escola de Comunicações e Artes da USP. Departamento no qual o presente trabalho se insere formalmente dentro da área de pesquisa intitulada “processos de criação musical”.

4ª entrevista – em 27 de janeiro de 2013 – Guinga (1950): Compositor, violonista e cantor. Representa, junto com Elomar, um eixo para este trabalho na medida em que é “um compositor de canção” [i], sem que com isso deixe de realizar constantes incursões criativas na música instrumental – inclusive na condição de violonista solista – articulando em sua prática autoral e performativa as esferas aqui estudadas. A amplitude de sua atuação leva o artista à posição de mediador natural de informações musicais entre tais universos, o que justifica que sua obra, depoimentos e execuções musicais o tornem o personagem de maior presença ao longo da montagem das entrevistas apresentadas.

5ª entrevista – em 29 de janeiro de 2013 – Paulo César Pinheiro (1949): Poeta e compositor. Letrista que, através de sua obra, ajudou a instaurar, ainda nos anos 1960, alguns dos parâmetros estéticos que se tornaram referenciais para a canção popular brasileira, e que traz para este trabalho um olhar sobre a música atravessado pela palavra. É parceiro de alguns dos principais compositores e violonistas de música do Brasil, dentre os quais Baden Powell, o que o insere no campo de estudo em questão por favorecer a investigação da conduta do violonista solista quando em ato criativo de canção.

6ª entrevista – em 31 de janeiro de 2013 – João Bosco (1946): Cantor, compositor e violonista. Agrega ao trabalho seu tão pessoal manejo musical que aqui se entrelaça com sua, não menos interessante, observação dos pontos que lhe parecem mais relevantes para atingir sua síntese entre voz e violão. O olhar da figura que canta se acompanhando ao violão e assim compõe canção, tão presente na história de nossa música, é representado aqui por um dos artistas mais populares do Brasil.

7ª entrevista – em 06 de abril de 2013 – Marco Pereira (1950): Violonista, compositor e arranjador e professor adjunto no Departamento de Composição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Instrumentista referencial para o âmbito do violão solístico popular com uma linguagem que contempla aspectos resultantes da formação como concertista erudito, efetivando um trânsito de informações musicais que coincide em diversos pontos com a iniciativa aqui encampada. A gravação dessa última entrevista foi conduzida em função dos conteúdos obtidos nas entrevistas anteriores, fato que favorece uma maior presença do artista na presente montagem.

De 04/2013 a 06/2013 foram ministradas aulas semanais em grupo,12 baseadas no material em vídeo resultante das entrevistas, que representaram um importante momento de reflexão e sedimentação da estrutura do corpo da dissertação.

Defesa da dissertação – em fevereiro de 2014 – momento de consolidação do trabalho. A banca, formada por José Miguel Wisnik, Ivan Vilela e Gil Jardim, deu orientações importantes e solicitou uma versão revisada.

Lançamento do filme – em setembro de 2016 – o documentário audiovisual Violão-canção: uma alma brasileira, codirigido por Rose Satiko, é lançado dentro da programação do festival InEdit Brasil em São Paulo, com a seguinte sinopse: “Na trilha de seu fazer artístico, Chico Saraiva parte ao encontro da experiência de sete mestres: João Bosco, Sérgio Assad, Paulo César Pinheiro, Paulo Bellinati, Marco Pereira, Luiz Tatit e Guinga. As conversas, com violões na mão, revelam múltiplas formas de a música se dar a partir da relação – especialmente fértil no Brasil – entre o violão solo (em seu viés mais ligado à tradição escrita) e nossa canção popular”. Em dezembro de 2017 o filme teve sua estreia na televisão nos canais SescTv e Arte1.

8ª entrevista – em fevereiro de 2017 – Elomar: é uma figura fundamental para este livro. Embora avesso a ter sua imagem registrada em foto ou vídeo, O músico nos recebeu na mítica Casa dos Carneiros para um depoimento – registrada em áudio – que está transcrita, em seleção dos pontos mais significativos, no capítulo “Elomar e o inapreensível”. A conversa, pelo momento em que se deu e pela centralidade do entrevistado em relação ao tema da pesquisa, revisita as questões abordadas de forma conclusiva no que tange à trama principal do livro: o engate entre peça de violão escrita e canção. Assim, a visita a Elomar impulsiona o desfecho desta obra, que é inspirado na ideia de montagem cinematográfica, como uma última cena a ser imaginada pelo leitor.

O percurso artístico pessoal de Chico Saraiva, através dos trabalhos realizados como compositor e violonista atuante no campo estudado, revelou-se ferramenta adequada aos propósitos da pesquisa na medida em que o manuseio de informações musicais – vivenciado como artista – alimentou as imagens lançadas nas entrevistas como projeções enquanto pesquisador – imagens que se traduzem no teor do conteúdo obtido.

Para conhecer mais sobre a trajetória de Chico Saraiva, discografia e projetos, visite o site oficial www.chicosaraiva.com.

  1. Elomar (1937) representaria ao lado de Guinga uma segunda presença no eixo aqui trabalhado, excêntrico aos campos do violão e da canção. Entretanto o projeto artístico de Elomar não inclui registros em vídeo. O que nos desafia a seguir buscando uma maneira de apresentar as importantes contribuições do compositor-violonista baiano ao tema, algumas das quais já manifestadas por meio de um fértil contato pessoal. 

  2. Como no inglês há uma clara diferença entre composer (compositor) e songwriter (cancionista), o que não
    ocorre no português, optou-se por manter os dois termos no original.

  3. LINK com essa mesma ideia apresentada em – 3.1- a não canção? – no depoimento do próprio Guinga.

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