MATERIAIS COLABORATIVOS

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1.2 – um violão que se engrena na canção

A história da canção brasileira tem estreita ligação com o violão. Se outros instrumentos melódico-harmônicos – como o piano, a sanfona ou o cavaquinho – figuram como ferramentas de elaboração musical consagradas em determinadas vertentes, o violão se destaca como principal instrumento de manuseio dos elementos musicais de quem faz canção no Brasil.

Assim, o formato de uma voz e um violão surge como parâmetro determinante para uma música que apresenta vocação para receber tratamento de canção, mesmo se for composta com a participação ativa de um instrumento que não seja o violão.

Esse parâmetro se estabelece através de farta produção de diferentes gerações de cantores-violonistas, que vão, gradualmente, fundando as bases de manuseio musical próprias da canção brasileira.

 

JOÃO BOSCO

00:00  equilíbrio de voz e violão: Caymmi e João Gilberto

Uma pessoa que mudou minha vida foi o Dorival Caymmi.[…]
Ele tinha o violão de aço dele
e cantava com aquela voz muito poderosa.
Violão e voz com emissão muito parecida, ambos muito fortes.
Ao contrário de João Gilberto
que faz uma voz suave e um violão muito “soft” também.
ambos tem um talento enorme para colocar voz e violão no mesmo nível sonoro.

00:48 Caymmi: violão integrado na composição

Ao mesmo tempo em que a voz inspira o violão,
o instrumento chama a voz.
Por fim os dois se fundem
tornando-se partes inseparáveis da composição.[i]

02:10 partes inseparáveis da composição

03:06 um violão muito característico daquele autor e daquela voz

 

SARAIVA
Realmente, o voz e violão do Caymmi
mesmo sendo clássico
tem estímulos musicais que ainda não forma decifrados 

JOÃO BOSCO
E talvez não seja pra gente decifrar mesmo
já que apresenta uma relação misteriosa entre voz e instrumento,
mas sim para sabermos que de fato aquele é
um violão muito característico daquela voz e daquele autor.
são indivisíveis
são inseparáveis
e ambos precisam um do outro
para a coisa funcionar.

 

Guinga destaca outros artistas, da geração subsequente à de Dorival Caymmi, que contribuem de maneira especial para a multiplicação das expressões e estilos na elaboração de um “violão que se engrena na canção”.


GUINGA

00:00 soluções muito pessoais

Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Dori Caymmi.
Eles têm a mesma importância para o violão que João Gilberto,
já que apresentam soluções também muito pessoais.

00:33 Dori

Quando Dori faz isso:
[Guinga toca e vocaliza Estrela da tarde (Dori Caymmi/Paulo César Pinheiro)]

Isso é uma obra-prima, rapaz!
Tem uma importância para a literatura violonística como qualquer dessas peças maravilhosas


Os termos “peça”, “literatura violonística” e “obra-prima” nos remetem diretamente ao universo do violão erudito [i], e, de certa forma, reclamam uma legitimidade híbrida entre as tradições escrita e oral, para a refinada ourivesaria do compositor-violonista que compõe canção no Brasil.

 

GUINGA

02:44 um violão que se engrena na canção

Esses caras foram mais meus professores de violão do que os violonistas mesmo.

SARAIVA
Você fala do violão de acompanhamento?

GUINGA
Para mim isso não é violão de acompanhamento.
É um violão que tem uma vida independente.  […]

Se você for acompanhar essa música de uma outra maneira
não vai ter essa exuberância.
O cara criou uma canção
e criou um violão que se engrena na canção

 

Assim, a visão de Guinga dialoga com a de João Bosco quando menciona que o violão e a voz se “fundem tornando-se partes inseparáveis da composição”. Em ambos os casos a aderência entre o canto e o acompanhamento concebido de forma autoral nos conduzem à impressão de gestos musicais específicos, que revelam o conceito de criação de cada compositor. [i]

  1. LINK com a mesma ideia apresentada em – 3 – Canção: graus de ação do instrumento no processo criativo – na segunda categoria da esquematização.

    LINK com a ideia “sinto-o como canção, dentro dessa estética simples, que se traduz com uma voz e um violão sem perder sua beleza e integridade” apresentada em – 3.6 – O composer, the songwriter and the grays in between.

  2. Universo com o qual Guinga entrou em contato, ainda que não de maneira aprofundada, como aluno do
    professor e concertista Jodacil Damasceno.

  3. LINK com o conceito de “gesto musical” apresentado na introdução da dissertação acadêmica, cujo link para PDF se encontra na segunda nota da Introdução.

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