4.4 – o vigor e a sutileza
SARAIVA
00:00 pergunta: Baden, a Escola do Meira e a “comunicação” da praça [i]
MARCO PEREIRA
00:55 o Baden tinha essa pegada vigorosa
01:25 Baden e Paulinho Nogueira [i]
Paulinho Nogueira surge de forma semelhante, na posição de oposto complementar a Baden Powell, também na conversa com Sérgio Assad.[i]
ASSAD
Na realidade o bom intérprete de violão é quem sabe fazer uma mixagem no que ele está tocando.
A melodia está lá no primeiro plano,
a parte harmônica pelo meio, com menos presença,
e um baixo ali para dar um suporte.[i]
O Paulinho Nogueira, que foi um mestre para mim,
independente de suas limitações técnicas,
sabia fazer seu violão soar como um grupo com esses diferentes planos.
Podemos presumir que o violão solo de Paulinho Nogueira “soa como grupo” para Sérgio Assad no sentido de que se relaciona com uma escuta polifônica em suas direcionalidades horizontais, ao passo que a expressão “soar a banda”[i], de Marco Pereira, referente ao “voz e violão” habitual em canção popular – arte na qual João Bosco, como demonstrará na sequência, é um de nossos dos principais mestres –, reverencia a capacidade de reproduzir no violão a função que a “seção rítmica” (baixo, bateria, percussão) de uma “banda” costuma exercer.
A distinção entre os universos do violão solístico e do violão de acompanhamento de canção popular se dá através da transferência da melodia, que é sustentada em primeiro plano no violão solo, para a voz na canção popular. Canto que se completa com o violão de acompanhamento realizando as duas demais camadas: a do recheio harmônico e a da linha de baixo.
O violonista americano Ralph Towner, em seu método Improvisation and performance techniques for classical and acoustic guitar apresenta-nos de uma forma muito semelhante a de Sérgio Assad as três camadas mobilizadas pelo solista, e nos fala também do “papel” do músico que exerce a função de acompanhamento para voz ou instrumento melódico:
As a soloist, you are responsible for all three conceptual functions simultaneously: a melody voice, chords and their variations, and a bass voice. The role of an accompanist to a melody instrument is less of a juggling problem, since you can occupy yourself mainly with preforming the latter two functions. (TOWNER, 1985, p. 34)[i]
Assim, Paulinho Nogueira é apontado como um mestre que influencia a geração dos nossos entrevistados no manejo desses três diferentes “planos”, raramente alcançados por um violonista sem formação erudita. Êxito que depende, em alguma medida, de um assumir da emissão natural, intimista e mais “sutil” do violão, e que leva Paulinho Nogueira à composição de peças para violão solo que chegam a ótimas soluções em partituras que se impõem como parte do repertório de intersecção erudito-popular estudado pela presente pesquisa.[i]
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LINK com a ideia “Quando você vai pra praça a comunicação musical não pode se ater a esse aspecto da ‘pureza do som, tem que passar sua mensagem musical ao público de outra forma” apresentada em – 4.3 – a sala, o banheiro e a praça – no depoimento de Marco Pereira.
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Paulo Artur Mendes Pupo Nogueira (1929-2003).
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Um ponto que os aproxima é o fato de Paulinho Nogueira – ao que indica o caráter de suas canções – ser outro exemplo de solista que, assim como Baden, compunha canções populares se “desvencilhando do instrumento”. LINK com a ideia de “Baden as vezes empacava” apresentada em – 5.5 – “Boi de Mamão” – no depoimento de P.C. Pinheiro.
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Trecho presente na Faixa #14, em FAIXAS DO LIVRO, concluindo a “aula de som” de Sérgio Assad apresentada em – 4.7 – som polido.
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LINK com essa ideia mesma apresentada no capítulo – 4.1 – violão-piano – no depoimento de Marco Pereira.
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LINK com a ideia “Ralph Towner e o ruído” e com a ideia “o bom intérprete de violão faz sua mixagem” apresentadas em – 4.7 – som polido.
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LINK com a ideia “Por isso é muito difícil para outro violonista tocar as músicas de Baden, a não ser que seja uma música formal”, apresentada em – 3.3 – a canção sem violão – na citação do depoimento de Turíbio Santos.