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3.3 – a canção sem violão

O diálogo com o P.C. Pinheiro se desdobra motivado por esse contraste entre gestos autorais que se alimentam de uma maior elaboração musical, relacionada com o instrumento, e gestos que priorizam uma naturalidade na emissão vocal e apresentam, como virtude, a capacidade do autor de desvencilhar-se do instrumento quando em ato criativo de canção.

 

SARAIVA

00:00 a pergunta: sobre o equilíbrio perseguido

P.C. PINHEIRO

01:18 a resposta: Baden Powell

As pessoas imaginam que o instrumentista pega o violão e vai fazer a melodia nas cordas.
E não é assim. Às vezes faz batucando numa mesa, e vai passar para o violão depois.[i]

03:13 criar, inventar, compor… não tem fórmula!

Isso gira de tantas maneiras diferentes na cabeça de alguém que é muito difícil de explicar.[i]

 

Dessa forma, a flexibilidade própria da canção, cultivada pelo Baden compositor, garante a organicidade através da qual desenvolve aspectos essenciais a seu estilo pessoal de violonista forjado na interpretação instrumental de suas próprias canções, muitas das quais compostas sem o violão.

O concertista Turíbio Santos comenta a diferença entre a música com natureza melódica, de Baden, e a música “essencialmente harmônica”[i], de Jobim:

 

TURÍBIO SANTOS

Uma coisa curiosa é o processo de criação de Baden,
Ele é um compositor extremamente melódico e não é um compositor de harmonias feito Tom Jobim.
Para Baden o que interessa é a melodia, a harmonia depende do que ele está pretendendo.[i]
Em todas as músicas dele a melodia é muito forte,
por isso é muito difícil para outro violonista tocar as músicas de Baden,
a não ser que seja uma “música formal”…
Se não ele sai em cima da melodia
e faz pequenos contratempos muito maliciosos e bonitos, que só ele consegue.
Aí fica praticamente impossível interpretar Baden Powell.

Eu já gravei músicas de João Pernanbuco, de Dilermando Reis, de Garoto.
De Baden nunca consegui, porque ia ficar careta,
ia faltar aquela ‘salsa’ que ele mesmo coloca em suas músicas.[i]

  1. LINK com a ideia “instrumento representando uma ameaça à natureza e fluência ‘entoativas’ intrínsecas à melodia da canção” apresentada em – 3.1 – a não canção?.

  2. Esse momento da entrevista de P. C. Pinheiro tem sequência aprofundando esse ponto de vista em – 5.5 – “Boi de Mamão”.

  3. LINK com a mesma ideia apresentada em – 4.6 – ressurgimentos: a escola de Meira e o ar maior – na citação de Tom Jobim.

  4. LINK com a ideia “o ouvido do cancionista” apresentada em – 2.1 – o letrista – na citação de Luiz Tatit.

    LINK com a ideia “por que em uma música que tem uma forte ‘natureza melódica’ tocar a melodia já é o suficiente” apresentada no capítulo – 4.1 – violão-piano – no depoimento de Sérgio Assad.

  5. Entrevista concedida a Dominique Dreyfus para seu livro O violão vadio de Baden Powell Ed. 34, 1999, p. 304.

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